sexta-feira, 12 de novembro de 2010

De um amor maior ainda

Acho que tenho muitas manias. Quando leio um livro, tento não abrir muito as páginas para não machucá-lo. Sempre ao final parece novo, nunca lido. A não ser pelos sublinhados bem de leve nas partes que eu gosto mais, nos trechos mais bonitos. Mas tem que me encantar muito para eu fazer isso, não é em todo livro. Mas sempre tem uma lapiseira ao lado, e o meu moleskine de citações mais que lindas. Esses me acompanham sempre. Jamais dobro as páginas de um livro, acho isso um sacrilégio. Nunca, em hipótese alguma, vou deixar o livro aberto, emborcado para baixo, para marcar uma página (a minha irmã faz isso e me enlouquece. Acho que por conta de ficar tão aflita por isso, desenvolvi uma outra mania: ter muitos marcadores de livros. Faço o possível para nunca faltar um marcador perto dela, assim não tem desculpas para deixar os livros de castigo olhando pra baixo). Já cansei de comprar um livro pra mim e outro para dar de presente, porque também quero ter (acho que não sou a única). Também já fiz o exercício de ler os livros de uma biblioteca e não comprar todos de que gostei. Acho que dá certo.
Meu maior vício é não conseguir passar na frente de uma livraria e não entrar para olhar as estantes. Na livraria, enquanto olho as prateleiras, sou daquelas que consertam os livros que estiverem no lugar errado. Apago com uma borracha os riscos que encontrar em um livro de biblioteca (outro sacrilégio). Como sempre compro livros, a estante que eu tinha já não cabia mais. Então ganhei mais uma, igual, para colocar lado a lado. No final do ano passado. Hoje ela também já está lotada (porém organizada), mas ao lado de minha mesa já tem duas pilhas de livros, infelizmente no chão, porque eu não tenho mais lugar para colocar e o meu quarto ainda é o lugar mais seguro. Já doei um monte, só me arrependi de alguns. Já troquei um monte, também só me arrependi de alguns.
Organizo a estante de um jeito meu: antes tentei separar os autores nacionais dos estrangeiros, e acho que isso se mantém mais ou menos. Tem as prateleiras dos favoritos onde estão todos da Inês, todos do Baricco, grande parte dos da Clarice, da Adélia e do Saramago. Tem uma prateleira só de livros de culinária ou que falem desse amor por fazer magia. Tem uma prateleira só sobre livros que falam de livros e de leitura. Uma outra só dos livros sobre tradução (outra paixão minha). Tem uma prateleira só de livros em inglês e agora alguns também em alemão. Tem uma prateleira só dessa coleção linda da Alfaguara, com vários autores. Mas acho que tento sempre colocar os livros de determinado autor juntos. Engraçado que sei onde está tudo. Será que mais alguém gosta de ficar olhando para a estante quando está de bobeira pensando na vida ou é loucura só minha?
Assim que compro o livro, anoto o nome, local e data com um lápis na folha de rosto. Agora estou com a mania de colocar a nota fiscal dentro do livro (quem sabe para ver que estou gastando demais e diminuir as compras? não está dando muito certo...). Anoto todos os livros lidos no ano em um moleskine, isso depois do skoob, claro. Tenho mania de fazer listas dos livros que vou ler, que mudam sempre. Desejados, idem.
E o resto acho que vocês já sabem: eu empurro meus livros nas pessoas. Acho que eles têm um efeito terapêutico. Se um amigo desabafa sobre um assunto, sempre tenho um livro que vai servir para o que ele está sentindo. E depois voltam viciados: me indica mais um livro? :) E isso me deixa muito feliz. Escrevo sobre o que li para guardar, só para mim. Adoro dar livros de presente, fico sempre imaginando o que a pessoa vai gostar. Na minha casa não tem mais espaço e todo mundo reclama, mas eu digo que eles vão comigo para onde eu for. Mas não sei até quando, nem como. Tenho fases de desapego, e outras de querer guardar para os meus filhos, e elas se alternam. Mas uma coisa nunca muda: quando me perguntam o que eu quero ganhar de natal ou de aniversário, a resposta é sempre a mesma: livros! =]
E o meu paraíso é, sim, uma biblioteca.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Noite




Em 1944, Elie Wiesel e sua família, além de todos os judeus da região onde morava, foram levados para o campo de concentração de Auschwitz. "Night" narra todos os acontecimentos terríveis dessa crueldade sem tamanho, desde antes da chegada das tropas alemãs.
Foi uma surpresa pAra mim ler que os judeus foram levados para os campos sem resistir e sem saber o que os esparava por lá. Muitos deles acreditavam que estavam sendo levados para algum lugar um pouco mais distante do centro da guerra, um lugar mais seguro. Isso até chegar em Auschwitz.

Elie Wiesel perdeu a mãe e a irmã logo ao chegar ao campo de concentração. E durante todo o livro vemos a dor de uma criança e de um pai, ambos lutando contra a própria morte, para não se perderem um do outro. E vemos também que em condições tão absurdas, de uma imensa crueldade, o que prevalece é o instinto de sobrevivência de cada um.

Essa certamente não é uma leitura fácil, mas acredito que é indispensável. Por mais difícil que seja ler sobre algo tão doloroso. Mas, como diz o próprio Wiesel no livro: "esquecer não seria apenas perigoso, mas uma ofensa; esquecer os que morreram seria o mesmo que matá-los uma segunda vez".

Elie Wiesel recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 10 de dezembro de 1986 e o livro inclui ao final o discurso do autor quando recebeu o prêmio.

Definitivamente, um livro que merece ser lido.

"Sometimes I am asked if I know "the response to Auschwitz"; I answer that not only do I not know it, but that I don't know if a tragedy of this magnitude has a response. What I do know is that there is "response" in responsibility. When we speak of this era of evil and darkness, so close and yet so distant, "responsibility" is the key word.
The witness has forced himself to testify. For the youth of today, for the children who will be born tomorrow. He does not want his past to become their future". (do prefácio)

***

"Never shall I forget that night, the first night in camp, that turned my life into one long night seven times sealed.
Never shall I forget that smoke.
Never shall I forget the small faces of the children whose bodies I saw transformed into smoke under a silent sky.
Never shall I forget those flames that consumed my faith forever.
Never shall I forget the nocturnal silence that deprived me for all eternity of the desire to live.
Never shall I forget those moments that murdered my God and my soul and turned my dreams into ashes.
Never shall I forget those things, even were I condemned to live as long as God Himself.
Never."

Trecho extraído do livro "Night", de Elie Wiesel, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1986.

A tradução livre a seguir é minha, apenas para facilitar a leitura de quem não lê em inglês:

"Nunca esquecerei aquela noite, a primeira no campo de concentração, que transformou a minha vida em uma noite sem fim.
Nunca esquecerei aquela fumaça.
Nunca esquecerei os rostos tão pequenos daquelas crianças, cujos corpos eu vi virarem fumaça sob um céu de silêncio.
Nunca esquecerei aquelas chamas que consumiram a minha fé para sempre.
Nunca esquecerei o silêncio noturno que destruiu por toda a eternidade o meu desejo de viver.
Nunca esquecerei aqueles momentos que assassinaram o meu Deus e a minha alma e transformaram em cinzas os meus sonhos.
Nunca esquecerei aquelas coisas, mesmo que estivesse condenado a viver tanto tempo quanto o próprio Deus.
Nunca."