sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Carinho.



Com açúcar, com afeto. Foi assim que esse livrinho charmoso chegou até mim ontem, saído de uma livraria bem charmosa de Buenos Aires. Prima querida, amei o presente, a lembrança, o afeto. Love you!

The road home

Uma bela definição de saudade, acho que é o que mais explica esse livro. Saudade de nossa casa, quando no exílio, de nossa cultura, de ouvir nossa própria língua, ou saudade do que a gente era em uma época mais feliz. Saudade também de alguém que a gente amou e que já se foi. Recomeços. E todos os tropeços ao recomeçar e tentar se (re)encontrar. O livro é uma viagem pela alma humana, erros e acertos, dores e alegrias.
E eu viajei com Lev pelos ruas de Londres, imaginando os cheiros, os sons, o vento frio, e me encantei pelos amigos que ele encontrou pelo caminho, apesar de todas as circunstâncias difíceis pelas quais ele passa no decorrer de sua estadia na Inglaterra. Torci por Lydia e me reconheci em suas "segundas chances". Até o final ainda esperei que ela voltasse, mas aceitei o destino justo que a autora reservou para ela.

Fiquei surpresa e contente quando Lev descobre seu amor pela culinária como que por acaso, e compreende o poder mágico que é cozinhar para fazer outras pessoas felizes. E apesar de muitas vezes ter vontade de bater em Lev, dadas as besteiras que ele faz, sempre dei uma segunda chance a esse personagem que se mostrou imensamente humano. Feito Lydia, por ver ali um bom coração errando meramente por estar sofrendo, voltava a torcer por Lev. E sofri junto, ansiosa e desejando que alguma coisa boa por fim acontecesse. Porque, assim como eu, Lev acreditava em seus sonhos e neles encontrava forças para seguir vivendo. E acho que todo mundo que ainda acredita em sonhos merece sim uma chance, ou quem sabe muitas, de encontrar a felicidade.
A princípio pensei ter amado o livro e me decepcionado um pouco com o final (essa mania terrível de desejar finais felizes...), mas depois de alguns dias ainda pensando na história cheguei à conclusão de que a autora foi muito coerente. O livro é humano demais para ter um final de conto de fadas. Além disso, a autora reservou para Lev um destino tão digno quanto o que reservou para Lydia, cada um à sua maneira. Para Lev ficou, enfim, a chance verdadeira de recomeçar após ter descoberto o caminho.

Rose Tremain. The Road Home. UK: Vintage, 2011.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A rainbow of books

Para alegrar qualquer estante: em seu 21º aniversário, a Vintage Books publica 21 sucessos do seu catálogo com uma edição linda de morrer, um de cada cor, para transformar sua estante de livros em um arco-íris. Nem precisa dizer que eu quero todos, porque apaixonei, né? Mas como o dinheiro não dá, comprei dois, um verde e um azul. Quem advinha quais são? :)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O ano da leitura mágica



Sempre que encontro um livro que fale sobre o amor aos livros e sobre o poder transformador da literatura e sua capacidade de nos amparar nas situações mais difíceis, é quase certo que vou me apaixonar pela história. Mas nem sempre o livro alcança todas as nossas expectativas, principalmente porque com o tempo elas passam a ser cada dia maiores.

Com uma edição linda da editora Leya, "O Ano da Leitura Mágica" desperta imediatamente o desejo de ler no leitor: a promessa de um ano repleto de leituras; citações dos livros lidos pelo caminho; a superação de uma dor da alma; e de brinde uma lista de livros imensa, um para cada dia do ano. Impossível resistir.

Mas, apesar de ser um livro de fácil leitura e gostosinho de ler (principalmente se você for um leitor apaixonado), eu senti falta de algo a mais na história. Achei que faltou paixão nos comentários que a autora tece sobre os livros lidos (alguns deles, na verdade, porque foram 365 livros e é difícil comentar tanta coisa em um livro só).

O fato de o livro trazer citações no início de cada capítulo encheu meus olhos, mas acabou não sendo o que eu imaginei, já que esperava que as citações todas tivessem como tema o amor aos livros, mas nem sempre elas estão relacionadas ao assunto. O que me fez pensar que os trechos que a gente sublinha ou anota em nossas leituras são completamente pessoais e nem sempre farão sentido para outra pessoa.

Não posso negar, contudo, que o livro seja uma boa companhia se o que você procura é uma leitura leve. Mas, em se tratando de amor aos livros há outros títulos mais arrebatadores, que trazem reflexões mais significativas e citações mais apaixonadas como "A arte de ler", de Michele Petit (Editora 34, 2009), um grande favorito da minha estante.

Confesso, porém, que sublinhei alguns trechos do livro que me fizeram sorrir enquanto lia, seja por identificação com os hábitos de leitura da personagem, seja por compaixão e solidariedade por sua dor. Afinal, todos que já se reergueram após um ano de leituras mágicas sabem que a leitura pode ser sim uma forma de (sobre)viver.

"As pessoas compartilham os livros que amam. Elas querem espalhar para os amigos e familiares a sensação boa que sentiram ao ler o livro ou as ideias que encontraram nas páginas deles. Ao compartilhar um livro amado, um leitor está tentando compartilhar o mesmo entusiasmo, prazer, medo e ansiedade que experimentou ao ler. E por que mais o fariam? Compartilhar o amor pelos livros ou por um livro específico é uma boa coisa. Mas é também uma manobra arriscada para ambos os lados. Quem dá o livro não está exatamente expondo a alma para uma rápida olhada, mas quando o entrega com o comentário de que é um de seus preferidos, está muito próximo de expô-la. Somos aquilo que gostamos de ler e quando admitimos que adoramos um livro, admitimos que este livro representa verdadeiramente algum aspecto do nosso ser".

Nina Sankovitch. O ano da leitura mágica. São Paulo: Leya, 2011. Pág. 99

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Memória II

"Eram estranhos os desvios de memória das pessoas da aldeia: coisas que eles se empenhavam em lembrar às vezes fugiam e se escondiam bem no fundo, sob o manto do esquecimento. E exatamente aquilo que decidiam que era muito importante esquecer, justo isso vinha à tona, e saía de dentro do esquecimento como se fosse, intencionalmente, para incomodar. Às vezes se lembravam com os mínimos detalhes de coisas que quase nem tinham ocorrido. Ou se lembravam do que um dia existira e depois deixara de existir, lembravam com dor e saudade, mas de tanta vergonha ou pesar decidiam definitivamente que tudo fora só um sonho. E diziam aos filhos: isso não passa de lenda."

Amós Oz. De repente, nas profundezas do bosque. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Pág. 50

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Memória.


Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de outubro de 1902 — Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987). Sempre.

sábado, 29 de outubro de 2011

Cerejeiras em flor.

Poesia pura. Lágrimas nos olhos. Delicadeza. Muitos suspiros pelas cerejeiras que eu tanto amo. Emoção por ver um amor real, com tantos defeitos como as nossas histórias de amor reais. Compreensão. Porque é possível se sentir sozinho e perdido em plena multidão. É possível e real a dor da saudade, o arrependimento do que não dissemos ou fizemos. E cada um tenta se perdoar como pode.
É bem mais que uma história de amor. Filme para nunca esquecer.

Sakura, ou flor de cerejeira, é a flor símbolo do Japão e representa a felicidade e as coisas efêmeras da vida devido ao seu curto período de floração, que é muito apreciado pelos japoneses (Hanami = observação das flores). Título perfeito para o filme, que mostra momentos tão importantes que nós, quase sempre, deixamos passar despercebidos no nosso dia a dia. Fica a lição de viver não apenas a vida, mas o amor, naqueles momentos únicos que passam por nós, mas que não voltam nunca mais.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Mary and Max



Quando vi um trechinho desse filme pela primeira vez, não duvidei nem por um instante que eu iria me apaixonar. A história de "Mary e Max, uma amizade diferente" conquista não apenas os que acreditam nas amizades que se constróem superando distâncias, culturas, idade e tempo, mas todos aqueles que sabem ver o mundo com olhos que sabem sentir. É impossível não sorrir ao ver Mary escrevendo suas cartinhas debaixo do cobertor à noite, da mesma forma que é impossível não se emocionar com as pequenas doses de afeto que os personagens trocam durante os anos de correspondência que mantêem entre si.
O filme aborda com muita delicadeza as características da Síndrome de Asperger sendo muito ilustrativo nesse sentido, já que a falta de conhecimento sobre a questão só gera mais preconceito e exclusão.
Triste e bonito, Mary e Max é uma aula sobre a vida, sobre amizade, sobre aceitar-se com todas as imperfeições e também sobre a solidão, nem sempre visível, mas tão presente nos dias de hoje. Recomendo com todas as estrelas.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

domingo, 16 de outubro de 2011

Departures


Porque todo fim é mesmo uma oportunidade para recomeçar. Lindo demais esse filme.

How to be alone

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Ready to go.

A mala está pronta. O coração está ansioso. O corpo está exausto dessa semana punk. A sexta feira foi como entrar em uma batalha sem saber que era batalha, sem nenhuma arma na mão. Isso cansa qualquer coração.
Mas amanhã é dia esperado, desejado, contado nos dedinhos da mão. Que seja doce.

"Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante.
Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder. Tudo é tão vago como se não fosse nada."

Caio Fernando Abreu. (Os dragões não conhecem o paraíso)

E hoje vi essa frase em um dos novos blogs que apareceram por aqui, e achei perfeita pra hoje, aliás, para sempre:

...que mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista, nem de sonho, a idéia da alegria. Tomara que apesar dos apesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz. (Caio F. Abreu)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Chico.


Dia 22/07/11, para a alegria geral.




quinta-feira, 9 de junho de 2011

Poesias de Clarice

A mágoa,
Os telhados sujos a sobrevoar
Arrastas no vôo a asa partida
Acima da igreja as ondas do sino
Te rejeitam ofegante na areia
O abraço não podes mais suportar
Amor estreita asa doente
Sais gritando pelos ares em horror
Sangue escoa pelos chaminés.
Foge foge para o espanto da solidão
Pousa na rocha
Estende o ser ferido que em teu corpo se aninhou,
Tua asa mais inocente foi atingida
Mas a Cidade te fascina.
Insiste lúgubre em brancura
Carregando o que se tornou mais precioso.
Voas sobre os tetos em ronda de urubu
Asa pesa pálida na noite descida
Em pálido pavor
Sobrevoas persistente a Cidade Fortificada escurecida
Capela ponte cemitério loja fechada
Parque morto floresta adormecida,
Folha de jornal voa em rua esquecida.
Que silêncio na torre quadrada.
Espreitas a fortaleza inalcançada.
Não desças
Não finjas que não doi mais
Inútil negar asa partida.
Arcanjo abatido, não tens onde pousar.
Foge, assombro, inda é tempo,
Desdobra em esforço a sua medida
Mergulha tua asa no ar.
Clarice Lispector
Publicado no Diário de São Paulo em 5/1/1947.
Foi mantida a grafia original.
Para ler a matéria inteira sobre a (verdadeira) poesia de Clarice, vejam o site da Cosac Naify: http://editora.cosacnaify.com.br/blog/?p=8284

sábado, 28 de maio de 2011

84 Charing Cross Road



Desde o ano passado que este livro está na minha estante, aguardando a hora de ser lido. Não vou dizer que me arrependo de não ter lido antes; acho que o momento agora foi um dos mais perfeitos. No fundo, acredito até que ele estava esperando esse momento chegar, para chamar minha atenção para essas páginas amareladas na minha estante.

Depois de ter lido e amado "a sociedade literária", esse foi o livro que mais se aproximou do encantamento que eu senti pelos moradores da ilha de Guernsey. Mas, diferente de "A sociedade literária e a torta de casca de batata", *84 Charing Cross Road* (ou "Nunca te vi, sempre te amei" em português) é uma história real. E o que mais posso dizer? Que me senti em casa em meio a essas cartas que recontam uma grande amizade entre pessoas que nunca se viram, mas que se compreendem imensamente, porque o que as une é um grande amor pelos livros.

Chorei com a mesma tristeza que Helene deve ter chorado quando recebeu a última carta, e imagino que sentirei a mesma alegria e emoção que ela sentiu quando, depois de tantos anos, finalmente pisou em Londres pela primeira vez. No livro alguém diz que as pessoas encontram em Londres exatamente o que estavam procurando. Helene disse que queria encontrar a Inglaterra da Literatura Inglesa, mas acho que ela acabou encontrando muito mais que isso. Estou sonhando com a minha chance de caminhar pela Charing Cross Road e encontrar a Londres com que eu sempre sonhei.



Gostei tanto desse livro que ontem saí em busca do filme, com o mesmo título e um grande elenco (Anthony Hopkins, Jude Dench e Ann Bancroft). Recomendo tanto o livro quanto o filme, para todos aqueles que compartilham comigo esse amor pelos livros, pelas cartas e por essas amizades que surgem apesar das distâncias e que, de tão especiais, merecem ser recontadas.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Of mice and men


Sometimes love means letting go
Primeiro livro do Steinbeck que eu leio e estou perdidamente apaixonada. Mas não foi amor à primeira vista. "As vinhas da Ira" está aqui na minha estante há um bom tempo, como um daqueles livros que eu "preciso ler". Mas eis que surge a necessidade de ler o pequeno e grandioso "Of mice and men". Nas primeiras páginas, pensei que a leitura não fosse engatar, mas confiei em alguém que me disse "leia, é maravilhoso!". Segui em frente e me encantei.

A linguagem, bem característica da zona rural e cheia de gírias, causa bastante estranhamento a princípio, mas ela apenas contextualiza a história, não é o essencial. O essencial é uma história de amizade que encanta pela simplicidade e sutileza. É a história de duas vidas (ou de muitas outras por aí) que sofrem todas as dificuldades da vida, da luta pelo sustento e pela sobrevivência. Vidas de muito trabalho, muita solidão, mas que alimentam um sonho, e é esse sonho que os consola e permite seguir vivendo. E o que chama a atenção nos dois personagens centrais, George e Lennie, é uma amizade terna.

George é pequeno e esperto e cuida do gigante Lennie, extremamente forte, mas que tem a mentalidade inocente de uma criança. Sendo muito infantil e não tendo consciência de sua força, Lennie sempre encontra problemas, por mais que George tente orientá-lo. Lennie adora animais, quer acariciá-los, pois gosta de tocar em tudo que é macio e tem uma textura suave, mas, sem saber de sua força, acaba destruindo tudo o que toca. E um desses eventos resulta em uma grande tragédia.

Terminei de ler o livro com lágrimas nos olhos pois, por mais chocante que possa ser o final escolhido por Steinbeck, o que ficou pra mim não foi uma história de traição. Pelo contrário, o que sentimos, por mais estranho que seja, é compreensão. Compartilhamos da dor e do destino desses personagens e da trágica história que se encerra. E o que fica, no fundo, é a certeza (certeza essa que muitas vezes demoramos uma vida inteira para aprender): a de que, às vezes, amar é deixar partir.

Yeats.

Até hoje não consigo explicar muito bem esses dias em que a gente acorda meio "blue", sem nenhum motivo concreto. Aqueles dias em que nem um chocolate resolve. E de um livro para um filme, de uma cena para um poema, eis que eu encontro conforto. Acho um mistério isso que a poesia tem de dizer tudo aquilo que a gente queria dizer, nem sempre para outra pessoa, às vezes para nós mesmos, de uma forma simples e tão bonita.
O poema que me salvou ontem é de William Butler Yeats, poeta e dramaturgo irlandês. E no filme ele é declamado por Anthony Hopkins. Quem sabe ele não possa salvar mais alguém por aí também.




HAD I the heavens' embroidered cloths,
Enwrought with golden and silver light,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half-light,
I would spread the cloths under your feet:
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams.

William Butler Yeats, He Wishes For The Cloths Of Heaven

domingo, 22 de maio de 2011

Quem sabe?



Bruna Caram - Quem sabe isso não quer dizer amor

domingo, 15 de maio de 2011

Miss Potter




Colecionadora de postais que sou, já havia encontrado um pacote de cartões com desenhos de Beatrix Potter e seu famoso Peter Rabbit. Comprei porque achei os desenhos lindos e eram cartões diferentes. Já tinha ouvido falar do Peter Rabbit, mas acho que ele não fez parte da minha infância, não me lembro (vou ter que perguntar pra minha mãe: "mãe, eu tinha um livro do Peter Rabbit quando era pequena?"). Mas eis que então encontro o filme Miss Potter, com a Renée Zellweger que eu adoro (ela sempre vai ser Bridget Jones pra mim, não adianta), em uma promoção dessas das lojas americanas. Ah, eu não sabia que tinha um filme sobre a Beatrix Potter! Só por causa do coelhinho?, foi o que pensei.
E hoje, nesse domingo punk como eu costumo dizer, peguei o filme pra ver e relaxar a cabeça, porque chega uma determinada hora em que não importa o quanto você ainda quer estudar, seus neurônios simplesmente entram em coma, felizmente só por algumas horas.
E eu fiquei encantada pela história da Beatrix Potter, gente. Uma mulher que sem dúvida estava muito além do seu tempo. Helen Beatrix Potter nasceu em 1866, em uma época em que as mulheres não iam pra escola, isso era permitido apenas aos homens. E ela sempre gostou de desenhar, tinha uma imaginação fantástica. Com o tempo, começou a pressão para que ela se casasse, como acontecia com todas as moças da época. Mas Beatrix disse que não, que não queria se casar com um dos pretendentes que a família havia escolhido pra ela. Ela queria mais da vida. Ela queria continuar fazendo o que ela gostava: seus desenhos. E casamento, só se fosse por amor. Se manter-se firme nessa posição hoje em dia já é complicado, imagina em 1900? Fiquei fã de Beatrix.
A mãe dela detestava o fato de que ela desenhava e não se interessava pelas fofocas e eventos sociais como as outras moças. Mas Beatrix não deixou isso atrapalhar seu sonho e, depois de tentar 69 vezes (isso mesmo, sessenta e nove vezes!!) que alguma editora publicasse seu livro, ela consegue na 70 vez. E os livros de Beatrix começam a vender loucamente. O primeiro livro, the tale of Peter Rabbit, foi publicado pela primeira vez em 1902 e desde então nunca deixou de ser reimpresso. Beatrix ficou rica com seus livros. Mas isso é só uma parte da história.
Acontece que Beatrix se apaixonou por Norman, seu editor na época, uma pessoa que a ajudou muito e que admirava imensamente seu trabalho. Eles ficam noivos, mas a família de Beatrix não aprova o casamento. Na tentativa de fazê-la mudar de ideia, a família leva Beatrix para passar o verão em sua casa de campo no interior da Inglaterra. Eles achavam que ficando 3 meses longe de Norman, Beatrix iria esquecê-lo. Só que um mês depois de ter pedido Beatrix em casamento, Norman adoece enquanto Beatrix está viajando. E quando a irmã de Norman consegue avisar Beatrix por meio de uma carta o que está acontecendo, já é tarde demais. Beatrix fica arrasada com a morte de Norman, e deixa a casa da família sozinha (um ato de imensa coragem para uma mulher solteira na época) e com o dinheiro dos livros compra uma fazenda no interior da Inglaterra, onde se dedica muito ao trabalho para superar a perda de seu amor. Ela era uma apaixonada pela natureza e vendo que muitas outras fazendas ao redor de sua propriedade estavam sendo vendidas, Beatrix começa a comprá-las para manter os agricultores trabalhando na terra e, com isso, preservá-las.
Aos 47 anos, Beatrix se casa com um amigo de infância que, quando ela se muda para a fazenda muito a ajuda com o gerenciamento da propriedade e a compra das outras fazendas, mas isso só 8 anos depois da morte de Norman. E quando ela morreu, ela deixou todas as terras para uma organização destinada a preservar lugares de interesse histórico ou de grande beleza na Inglaterra, beleza essa que podemos ver no filme, cuja fotografia é belíssima.
Hoje sei que tenho na minha coleção de cartões alguns itens muito especiais, com os desenhos de Beatrix Potter, cuja história passei a admirar.
Recomendo muito o filme, que apesar de ser triste em muitos momentos, nos emociona pela coragem e pelo amor ao que se gosta de fazer.
E quem quiser saber mais sobre a história da Beatrix Potter, porque tem muito mais coisa, vale a pena conferir o site lindo que fala sobre isso tudo que eu falei pra vocês aqui e muitas outras coisas, como por exemplo o diário de Beatrix, que permaneceu indecifrável por 15 anos após sua morte, já que ela escrevia em um código que só ela sabia e que foi decifrado muito depois. Nem preciso dizer que o diário foi publicado e que eu já anotei na minha lista de desejos, né?
O link para o site é www.peterrabbit.com
E acabei encontrando a informação de que a J.K. Rowling é grande fã de Beatrix Potter, e dizem as más línguas que é por isso que o nosso pequeno bruxo tem esse sobrenome. Eu acho que pode ser sim, e vocês?

Irgendwas Bleibt

Domingo era pra ser dia de descanso, e tenho saudade do tempo em que era mesmo assim.
Prova, estudo, agora é assim. Mas tem sempre aquela musiquinha que acompanha os dias corridos, porque não dá pra viver sem trilha sonora, minha gente.



*Irgendwas Bleibt = alguma coisa que permaneça

terça-feira, 3 de maio de 2011

Aniversário.

Leva um tempo grande para a gente entender a importância do tempo. E às vezes, mesmo com uma vida inteira, nem sempre temos a dimensão exata de seu valor. Invariavelmente, no dia do seu aniversário, você vai ouvir alguém dizer do tempo que passou, que "a idade está chegando", que "está ficando mais velhinha". Pode até bater aquela preocupação clássica por faltar tão pouco para se tornar uma balzaquiana. Confesso que nos dias antes do meu aniversário geralmente fico mais pensativa, um pouco mais triste, não consigo evitar de pensar em tudo que eu planejei e não consegui; em tudo que eu imaginei e que na realidade não é bem assim. Tanto que nem sinto muita vontade de comemorar. Afinal, é um dia como outro qualquer, não?
Mas aí vem a tal da mágica do tempo. E no dia do seu aniversário, mais do que em qualquer outro dia, essa mágica parece vibrar mais forte em você. E o tempo, sábio conselheiro, apresenta diante do seu mundo uma infinidade de possibilidades. Há tanto ainda a fazer! E a gente simplesmente acorda mais novo, e não mais velho, porque sentimos que estamos, sim, recomeçando.
Mas a mágica que eu mais gosto nesse dia é toda a energia que a gente recebe, em cada parabéns, em cada mensagem, em cada ligação às vezes de tão longe, em cada presente. E a gente se sente renovado porque nesse dia inteiro, teve alguém que pensou em você com carinho em cada minutinho, e pensar com carinho é enviar energias positivas para alguém. E então a gente percebe quanta coisa boa a gente plantou; que aquela amiga que estava brava com você não está mais; que aquele amigo que sumiu na verdade não esquece de você; e que você já fez muita coisa boa sim, apesar de todos os muitos erros, que todos nós cometemos. Mas existe algo de mágico mesmo no tempo, que se mostra inteiro pra gente nesse dia em que (re)nascemos: é que ele nos mostra como é possível sermos amados do jeito que nós somos, metade erro, metade acerto, seja como for.
É por tudo isso então que o dia do aniversário é para mim um dia de agradecer. Por todas as graças, por todas as bênçãos, por todo o carinho. Meu aniversário já está acabando, mas eu não podia deixar de agradecer aos meus amigos, que me emocionaram com coisas tão doces nesse dia 3. Obrigada por me amarem desse jeito que sou.

domingo, 1 de maio de 2011

Yes, but no...

O Tumblr Yes, but no está fazendo sucesso com algumas frases bem legais para acabar com o preconceito e alguns estereótipos ridículos que persistem por aí. Separei alguns do Brasil para compartilhar aqui, mas tem sobre todos os assuntos. Quem nunca ouviu alguma dessas frases, favor considerar-se uma pessoa de sorte.





Mas um dos que eu mais gostei foi este aqui:

quarta-feira, 27 de abril de 2011

On Being Wrong



Encontrei esse vídeo hoje sobre erros e achei muito interessante. E concordo mesmo que é quando a gente não tem tanta certeza se estamos certos que aprendemos e produzimos mais. E também temos mais chances de nos encantar com a vida, do jeito torto que ela se apresenta para nós. Vale a pena assistir.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Baladas

Corpo de argila
meu triste corpo
não é verdade

se te disserem
minha elegia
ser mais vaidade
do que homenagem.

Por que o seria?
Me adivinhaste
quando a palavra
nada dizia

e longo tempo
(quando se amava)
havia dias
em que choravas

e estremecias.

Falam de ti.
Da tua pouca
fidelidade.

Mas o que importa
a infinidade
dos teus amantes
se toda vez
que te entregavas
extenuado

te perdias.
Ah, se a poesia
me permitisse
vôos mais altos

mesmo na morte
as confidências
que eu te faria...

Ainda me tens.
E bem por isso
destila em mim
teu peso enorme.

E no poema
que te dedico

meu triste corpo
ainda uma vez
chora comigo
chora comigo.

Hilda Hilst. Baladas. São Paulo: Globo, 2003. pág. 102-103

quinta-feira, 31 de março de 2011

Viva la vida




Para celebrar a vida.

quarta-feira, 23 de março de 2011

From Taiwan

Postal lindo que eu recebi hoje, de Taiwan.
E a gente fica sem palavras diante de uma foto tão linda assim.

terça-feira, 22 de março de 2011

A literatura em perigo



"Hoje, se me pergunto por que amo a literatura, a resposta que me vem espontaneamente à cabeça é: porque ela me ajuda a viver. Não é mais o caso de pedir a ela, como ocorria na adolescência, que me preservasse das feridas que eu poderia sofrer nos encontros com pessoas reais; em lugar de excluir as experiências vividas, ela me fez descobrir mundos que se colocam em continuidade com essas experiências e me permite melhor compreendê-las. Não creio ser o único a vê-la assim. Mais densa e mais eloquente que a vida cotidiana, mas não radicalmente diferente, a literatura amplia o nosso universo, incita-nos a imaginar outras maneiras de concebê-lo e organizá-lo. Somos todos feitos do que os outros seres humanos nos dão: primeiro nossos pais, depois aqueles que nos cercam; a literatura abre ao infinito essa possibilidade de interação com os outros e, por isso, nos enriquece infinitamente. Ela nos proporciona sensações insubstituíveis que fazem o mundo real se tornar mais pleno de sentido e mais belo. Longe de ser um simples entretenimento, uma distração reservada às pessoas educadas, ela permite que cada um responda melhor à sua vocação de ser humano. "
(Tzvetan Todorov em A literatura em perigo)

domingo, 20 de março de 2011

quinta-feira, 17 de março de 2011

O peso das palavras

Um dia, depois de já ter sido muito machucada por palavras alheias, ditas sem o menor cuidado (aquele cuidado de que carecem as palavras lançadas ao vento, na direção dos outros), a gente aprende a se defender; a gritar e dizer "chega!", a não deixar mais doer. Leva tempo, e pode não durar muito tempo, talvez a gente tropece de novo, mas é algo que vale a pena tentar fazer. Porque somos nós que escolhemos o que vai doer em nós. E cabe a nós não confundir amor com aceitar tudo.

Um livro muito sábio me ensinou que "Ninguém pode nos fazer felizes ou infelizes, somente nós mesmos é que regemos o nosso destino. Assim sendo, sucessos ou fracassos são subprodutos de nossas atitudes construtivas ou destrutivas." [*pág. 26]. Aceitar os nossos próprios fracassos não é tarefa fácil, mas o que ajuda muito é saber que ainda teremos muitas oportunidades de recomeçar e, quem sabe, acertar. Parar de ficar remoendo os fracassos é também libertador.

Mas às vezes são os outros que vivem remoendo os nossos fracassos por nós, e isso nos derruba. E nesses casos temos que aprender a não deixar as coisas que são ditas nos derrubar. E é disso que eu estou falando nesse post meio sem sentido e totalmente desabafo como não escrevo há muito tempo: desse poder incrível que as palavras têm de edificar ou destruir. Aliás, como tudo na vida, que pode ser usado para o bem ou não. Só que as palavras parecem ter um peso tão maior! Principalmente se forem ditas por quem a gente ama e respeita. Daí a responsabilidade maior de quem é pai ou mãe: tudo que você disser tem peso duplo na vida dos filhos.

Às vezes, o que falamos sem pensar pode ficar como uma marca, como aquela fita que prendemos no caule das plantinhas que estão crescendo, para determinar que rumo o caule vai tomar. Às vezes pode impedir que a plantinha caia, mas também pode impedir que ela cresça linda do seu jeito único, com todas as imperfeições de um caule que foi lutando para se estabelecer livre no lugar que queria.

Tudo isso então foi para dizer que é bom sempre pensar bem antes de dizer as coisas. Que as palavras têm um peso, uma energia, que certamente atinge seu alvo. Por isso que todas as coisas negativas que falamos a respeito de alguém podem sim fazer mal para essa pessoa. São energias negativas que estamos enviando através do nosso pensamento. Pelo mesmo motivo quando falamos bem de alguém, enviamos boas energias, porque o nosso pensamento está vibrando positivamente em direção a essa pessoa. É isso o que acontece quando fazemos uma prece: vibramos positivamente na direção de uma pessoa. E mesmo que esteja longe, esse alguém vai sentir nosso amor, nossa energia, em pensamento.

Estamos muito acostumados a falar sem medida, sem pensar. Dizemos geralmente tudo que vem na nossa cabeça, e com isso muitas vezes estamos bombardeando os outros com energias não tão boas assim. Mas esse é o tipo de coisa que só cabe a nós mesmos mudar: é um exercício diário de contar até 10 antes de sair despejando o mau humor, a nossa raiva, a nossa frustração e principalmente, o nosso julgamento nos outros. É realmente importante respeitar o peso das palavras. Por que alguém muito sábio me disse que tudo que enviamos para o universo volta pra gente.


*do livro "Renovando atitudes", Ed. Boa Nova, 2010, Francisco do Espírito Santo Neto (ditado por Hammed).

sexta-feira, 11 de março de 2011

Das coisas lindas



Presentinho fofo da Lia que chegou hoje pelo correio.
Amei o chaveirinho! Obrigada, Lia! =]

Era uma vez...



Era uma vez uma agenda/caderno de propaganda que ninguém queria....

que virou um caderninho fofo que todo mundo quer :)

quinta-feira, 10 de março de 2011

+ Marcador de livro

Com novas estampas :)


Tudo cor de rosa :)

sexta-feira, 4 de março de 2011

pág. 29

E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.


Miguel Sousa Tavares. Não te deixarei morrer, David Crockett. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

quarta-feira, 2 de março de 2011

A gente se acostuma, mas não devia

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

...

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma."
(Marina Colasanti)

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Livros de fevereiro

Livros lidos em fevereiro:

1. Um grito de amor do centro do mundo
2. As três marias
3. Morder-te o coração
4. O assobiador
5. O quinze
6. A bolsa amarela
7. Nosso último verão
8. Minha querida Sputnik
9. A livraria
10. As boas mulheres da China

Total de livros lidos até agora: 21

E vocês, o que leram por agora? Alguma indicação? =)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Sputnik Sweetheart

"De modo que é assim que vivemos as nossas vidas. Não importa quão profunda e fatal seja a perda, o quão importante fosse o que nos roubaram - que foi arrebatado de nossas mãos - , mesmo que mudemos completamente com somente a camada externa da pele igual à de antes, continuamos a representar as nossas vidas dessa maneira, em silêncio. Aproximando-nos cada vez mais do fim da dimensão do tempo que nos foi estipulado, dando-lhe adeus enquanto vai minguando. Repetindo, quase sempre habilmente, as proezas sem fim do dia-a-dia. Deixando para trás uma sensação de vazio imensurável."

Haruki Murakami. Minha querida Sputnik. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. Pág. 232

Mar















"Aquela mulher sentia-se aleijada diariamente pela constante ausência do mar, do seu cheiro penetrante e salgado, das suas ondas atrevidas e majestosas, enfim, do seu efeito revitalizante para aqueles que são do mar.
As pequenas defesas de sua cabana já não surtiam efeito.
Por maior que seja o amor, a dor, a tristeza, o poder de um coração, ninguém pode recriar o mar. Em sítio mais nenhum."

Ondjaki. O Assobiador. Portugal: Editorial Caminho, 2002. pág. 55

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Playing for change



Estava na livraria olhando as novidades (as usual) e quando percebi estava olhando as prateleiras e quase dançando ao som da música qua tocava no local (pois é, eu faço esse tipo de coisa!). Mas a música era tão gostosa que a vontade era mesmo de dançar. Fui ver que música era aquela que estava tocando e descobri o CD/DVD Playing for change. Nem preciso dizer que entrou pra minha lista de desejados e que quando estou em casa agora vivo escutando as músicas pelo youtube.
Quando fui pesquisar mais sobre o CD, vi que eles têm uma fundação cuja missão é criar mudanças positivas através da música e da arte nos mais variados locais do planeta. De fato, a positive vibration. Eu achei um barato. Escutem as músicas e depois me digam se não dá vontade de dançar, além de ser uma ideia super legal :)


Marcador de livro


Marcadores de livros de tecido. Da série "Fazendo arte". Ficou lindo, né? =]

Sobre ser professor

"Não tinha planejado ser professor, mas depois de me tornar um, descobri um respeito e uma afeição pela profissão mais profundos do que jamais imaginaria vir a sentir. Mais exatamente, na verdade, devo dizer que acabei descobrindo a mim mesmo. Em pé, na frente da sala de aula, ensinando aos meus alunos da escola fundamental os fatos básicos da língua, vida, do mundo, descobri que, ao mesmo tempo, ensinava a mim mesmo tudo de novo - filtrado através dos olhos e mentes dessas crianças. Realizada da maneira certa, era uma experiência restauradora. Até mesmo, profunda."

Haruki Murakami. Minha querida Sputnik. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. Pág. 67

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O amor acaba

"O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova York; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba. "

Paulo Mendes Campos


Hoje no salão (dia de cortar cabelo e, porque não? renovar as esperanças), vi o finalzinho desse texto em uma daquelas páginas de fim de revista, que trazem citações. Achei que combinava com o dia. Chegando em casa, fui procurar o texto inteiro e achei mais lindo ainda. Compartilho aqui, porque esse é um daqueles que entrou para minha lista de "gostaria muito de ter escrito". Mas não escrevi. Paulo Mendes Campos, você sabia das coisas.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Morder-te o coração

Em um daqueles dias em que tudo que queremos é um livro que nos morda o coração, eis que me deparo com o pequeno livro de bordas cor de rosa (linda edição da editora Língua Geral, que tem publicado livros excelentes), da Patrícia Reis, que eu não conhecia. Mas com uma apresentação linda de Inês Pedrosa e José Eduardo Agualusa, não há o que temer. Arrisquei e não me arrependi. Melhor: me apaixonei.

Li de um fôlego só, feliz por ter encontrado uma escrita apaixonada, cheia de emoção, como eu gosto de ler. "Morder-te o coração" é uma história de amor, mas é sem dúvida fruto desse tempo em que vivemos. Tempo louco de encontros e desencontros, de solidões. Fiquei totalmente envolvida e emocionada com a história. Saí sublinhando várias partes que de fato morderam meu coração.

A forma de intercalar as vozes masculina e feminina no texto me lembrou muito o Fazes-me falta da Inês. Bom, e se me fez lembrar da Inês, já dá pra perceber o tanto que eu gostei do livro, né?

Recomendo muito, mas aviso: faz mesmo doer o coração.

Patrícia Reis. Morder-te o coração. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007.


"Este romance é uma viagem alucinante pelos labirintos do desejo e da solidão, que nos arrasta para lá das convenções dos géneros e do sexo, conduzindo-nos ao conhecimento da vertigem. A escrita transparente e comunicante de Patrícia Reis ganha corpo e espessura nesta narrativa polifónica orquestrada pela obsessão do Grande Amor - aquele cuja luz infinita que simultaneamente cega e acende a verdade íntima de cada um de nós. Este livro morde-nos, de facto, o coração - e é para isso que servem os bons livros". [Inês Pedrosa]

"Este (pequeno) livro é precioso (e raro) e deve ser manuseado com cuidado: contém emoções". [José Eduardo Agualusa]

As Três Marias

Uma crônica de saudades

Esse é o primeiro romance de Rachel de Queiroz que leio e fiquei encantada. É realmente uma crônica de saudades, como diz no livro, uma espécie de quase memórias, como se fosse um diário íntimo, narrado em primeira pessoa, que tenta salvar as lembranças da infância e da vida de três amigas em um colégio interno católico e depois quando deixam a escola e seguem pela vida.

Personagens femininas tão marcantes e reais que possibilitam uma identificação muito grande do leitor. Engana-se quem pensa que a presença da vida nordestina limita o texto de Rachel. Pelo contrário, ela apresenta com maestria sentimentos, situações e questionamentos universais, que vão muito além do espaço físico que recria em suas histórias. E o melhor de tudo é a vida e a energia que o texto tem, sua escrita leve faz a gente sentir como se estivesse em uma conversa, como se de fato fosse um contar de história.

Lamentei muito o tempo que passei sem ler Rachel de Queiroz, As Três Marias entrou para os meus favoritos, como um daqueles livros que guardamos com carinho para serem relidos para reavivar a saudade.


Rachel de Queiroz. As três marias. 25ª ed. Rio de Janeiro: José Olimpio, 2009.

Um grito de amor do centro do mundo

Um grito de amor do centro do mundo é o primeiro livro do escritor japonês Kyoichi Katayama traduzido para o português.
O livro é um dos mais lidos no Japão, com mais de 3,5 milhões de exemplares vendidos. Foi adaptado para o cinema e para uma série de TV, além de ter se tornado um mangá de sucesso no Japão.

Essa é uma história de amor adolescente, uma releitura de Romeu e Julieta, mas contada com a sutileza característica dos orientais. Acho que é típico dos escritores japoneses narrarem a história como se pintassem um quadro, sendo delicado nos detalhes, para por fim criar uma imagem poética, onde o silêncio sempre diz mais que as palavras. Por isso, não podemos esperar grandes "arroubos" nesse livro.

Um grito de amor do centro do mundo traz essa sutileza dos japoneses para contar uma história de amor sem final feliz, final esse que ficamos sabendo antes mesmo de conhecer a história de Aki e Sakutarô. A princípio achei que essa inversão de trazer o final para o início do livro quebraria um pouco da emoção de viver no decorrer das páginas essa história de amor, o que de fato não deixa de acontecer um pouco, mas acho que independente de qual seja o final, a gente nunca se cansa de ouvir uma história de amor.


Kyoichi Katayama. Um grito de amor do centro do mundo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

One art

Como hoje se comemora o centenário de nascimento da poeta americana Elizabeth Bishop, decidi compartilhar aqui um poema dela que eu sempre gostei e que é um dos mais famosos de Bishop, creio eu. Porque eu acho que faz bem ler poesia (deveríamos ler mais), porque poesia me anima quando os dias trazem uma pequena nuvem cinza sobre mim. A tradução do poema, a seguir, é de Paulo Henriques Britto.


One Art

The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

-Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.




Tradução de Paulo Henriques Britto

“A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério. “

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Segredos


Da série coisas lindas que eu encontro pelo caminho.
Lá do Postsecret.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Dia de festa no mar

Dia dois de fevereiro é dia de festa no mar...






O arquétipo

Os filhos e filhas de Iemanjá são serenos, maternais, sinceros e ajudam a todos sem exceção. Gostam muito de ordem, hierarquia e disciplina. São ingênuos e calmos até demais, mas quando se enfurecem são como as ondas do mar, que batem sem saber onde vão parar. São vaidosos mais com os cabelos. Suas filhas sabem seduzir e encantar com a beleza e mistérios de uma sereia. Geralmente as filhas de Iemanjá têm dificuldade em ter filhos, pois já são mães de coração de todos.




Ai que saudade que eu tenho da Bahia, como diria Caymmi. Salve Iemanjá.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Bagagem

Acho que sou uma pessoa melancólica por natureza. Vez ou outra, no fim do dia, em dias de chuva, ao som de uma música que toca no rádio, ao sentir um perfume que me traz lembranças.
Ontem à noite estava assim, sentindo uma vontade grande de escrever, mas sem saber como começar, sobre o que falar. Sem saber se estudava ou se dormia, se navegava pela internet ou se simplesmente deixava o tempo passar. Pra ver se o tempo levava aquele apertinho no peito, misto de ansiedade e saudade.
Nessas horas só uma coisa me acalma: um pouco de poesia. E ontem foi Adélia Prado que me fez companhia.

Para cantar com o saltério

Te espero desde o acre mel de marimbondos da minha juventude.
Desde quando falei, vou ser cruzado, acompanhar bandeiras,
ser Maria Bonita no bando de Lampião, Anita ou Joana,
desde as brutalidades da minha fé sem dúvidas.
Te espero e não me canso, desde, até agora e para sempre,
amado que virá para pôr sua mão na minha testa
e inventar com sua boca de verdade
o meu nome para mim.

Adélia Prado. Bagagem. São Paulo: Record, 2008. pág. 98


E hoje cedo recebi um cartão postal lindo (esqueci de dizer
que amo cartões postais!), que veio lá dos Estados Unidos,
e quando vi a foto achei que combinava perfeito com esse
post. Melancolia é uma palavra que caminha por cenas assim.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Livros de Janeiro

Livros lidos em Janeiro:

1. Extremamente alto e incrivelmente perto, de Jonathan Safran Foer
2. Na Praia, de Ian McEwan
3. Estação das chuvas, de José Eduardo Agualusa
4. Homem Comum, de Philip Roth
5. Nossa Senhora da Solidão, de Marcela Serrano
6. Um amor literário, de Letícia Malard
7. Uma Mulher, de Péter Esterházy
8. Cordilheira, de Daniel Galera
9. Milagrário Pessoal, de José Eduardo Agualusa
10. Manual Prático de Levitação, de José Eduardo Agualusa
11. A casa pintada, de John Grisham

A meta de leitura para o ano será a mesma de 2010: ler 100 livros. Começamos bem.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Pequenos milagres

"A minha imaginação é tão fértil e veloz como a de um adolescente. As pessoas começam a definhar pela imaginação. Algumas já nascem quase mortas, ou mortas de todo, mas a tal ponto carecem de imaginação que nem dão por isso e insistem em respirar como se estivessem vivas. A mim, pelo contrário, possui-me, sem jamais esmorecer, uma imaginação furiosa. Desperta-me o coração e arrebata-o. Acende-me e alteia-me a carne murcha. Não me deixa morrer".

José Eduardo Agualusa. Milagrário Pessoal. Rio de Janeiro: Língua geral, 2010. pág 80

"A saudade mais sofrida é a que não se pode partilhar na nossa língua". (pág.61)

Porque eu gosto de histórias de amor. Porque declarações de amor às palavras me encantam. O diário de prodígios de Agualusa merece ser lido, pois, como ele mesmo diz "os mialgres acontecem a cada segundo. Os melhores costumam ser discretos. Os grandes são secretos".