segunda-feira, 18 de abril de 2011

Baladas

Corpo de argila
meu triste corpo
não é verdade

se te disserem
minha elegia
ser mais vaidade
do que homenagem.

Por que o seria?
Me adivinhaste
quando a palavra
nada dizia

e longo tempo
(quando se amava)
havia dias
em que choravas

e estremecias.

Falam de ti.
Da tua pouca
fidelidade.

Mas o que importa
a infinidade
dos teus amantes
se toda vez
que te entregavas
extenuado

te perdias.
Ah, se a poesia
me permitisse
vôos mais altos

mesmo na morte
as confidências
que eu te faria...

Ainda me tens.
E bem por isso
destila em mim
teu peso enorme.

E no poema
que te dedico

meu triste corpo
ainda uma vez
chora comigo
chora comigo.

Hilda Hilst. Baladas. São Paulo: Globo, 2003. pág. 102-103

Nenhum comentário: