sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Carinho.



Com açúcar, com afeto. Foi assim que esse livrinho charmoso chegou até mim ontem, saído de uma livraria bem charmosa de Buenos Aires. Prima querida, amei o presente, a lembrança, o afeto. Love you!

The road home

Uma bela definição de saudade, acho que é o que mais explica esse livro. Saudade de nossa casa, quando no exílio, de nossa cultura, de ouvir nossa própria língua, ou saudade do que a gente era em uma época mais feliz. Saudade também de alguém que a gente amou e que já se foi. Recomeços. E todos os tropeços ao recomeçar e tentar se (re)encontrar. O livro é uma viagem pela alma humana, erros e acertos, dores e alegrias.
E eu viajei com Lev pelos ruas de Londres, imaginando os cheiros, os sons, o vento frio, e me encantei pelos amigos que ele encontrou pelo caminho, apesar de todas as circunstâncias difíceis pelas quais ele passa no decorrer de sua estadia na Inglaterra. Torci por Lydia e me reconheci em suas "segundas chances". Até o final ainda esperei que ela voltasse, mas aceitei o destino justo que a autora reservou para ela.

Fiquei surpresa e contente quando Lev descobre seu amor pela culinária como que por acaso, e compreende o poder mágico que é cozinhar para fazer outras pessoas felizes. E apesar de muitas vezes ter vontade de bater em Lev, dadas as besteiras que ele faz, sempre dei uma segunda chance a esse personagem que se mostrou imensamente humano. Feito Lydia, por ver ali um bom coração errando meramente por estar sofrendo, voltava a torcer por Lev. E sofri junto, ansiosa e desejando que alguma coisa boa por fim acontecesse. Porque, assim como eu, Lev acreditava em seus sonhos e neles encontrava forças para seguir vivendo. E acho que todo mundo que ainda acredita em sonhos merece sim uma chance, ou quem sabe muitas, de encontrar a felicidade.
A princípio pensei ter amado o livro e me decepcionado um pouco com o final (essa mania terrível de desejar finais felizes...), mas depois de alguns dias ainda pensando na história cheguei à conclusão de que a autora foi muito coerente. O livro é humano demais para ter um final de conto de fadas. Além disso, a autora reservou para Lev um destino tão digno quanto o que reservou para Lydia, cada um à sua maneira. Para Lev ficou, enfim, a chance verdadeira de recomeçar após ter descoberto o caminho.

Rose Tremain. The Road Home. UK: Vintage, 2011.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

A rainbow of books

Para alegrar qualquer estante: em seu 21º aniversário, a Vintage Books publica 21 sucessos do seu catálogo com uma edição linda de morrer, um de cada cor, para transformar sua estante de livros em um arco-íris. Nem precisa dizer que eu quero todos, porque apaixonei, né? Mas como o dinheiro não dá, comprei dois, um verde e um azul. Quem advinha quais são? :)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O ano da leitura mágica



Sempre que encontro um livro que fale sobre o amor aos livros e sobre o poder transformador da literatura e sua capacidade de nos amparar nas situações mais difíceis, é quase certo que vou me apaixonar pela história. Mas nem sempre o livro alcança todas as nossas expectativas, principalmente porque com o tempo elas passam a ser cada dia maiores.

Com uma edição linda da editora Leya, "O Ano da Leitura Mágica" desperta imediatamente o desejo de ler no leitor: a promessa de um ano repleto de leituras; citações dos livros lidos pelo caminho; a superação de uma dor da alma; e de brinde uma lista de livros imensa, um para cada dia do ano. Impossível resistir.

Mas, apesar de ser um livro de fácil leitura e gostosinho de ler (principalmente se você for um leitor apaixonado), eu senti falta de algo a mais na história. Achei que faltou paixão nos comentários que a autora tece sobre os livros lidos (alguns deles, na verdade, porque foram 365 livros e é difícil comentar tanta coisa em um livro só).

O fato de o livro trazer citações no início de cada capítulo encheu meus olhos, mas acabou não sendo o que eu imaginei, já que esperava que as citações todas tivessem como tema o amor aos livros, mas nem sempre elas estão relacionadas ao assunto. O que me fez pensar que os trechos que a gente sublinha ou anota em nossas leituras são completamente pessoais e nem sempre farão sentido para outra pessoa.

Não posso negar, contudo, que o livro seja uma boa companhia se o que você procura é uma leitura leve. Mas, em se tratando de amor aos livros há outros títulos mais arrebatadores, que trazem reflexões mais significativas e citações mais apaixonadas como "A arte de ler", de Michele Petit (Editora 34, 2009), um grande favorito da minha estante.

Confesso, porém, que sublinhei alguns trechos do livro que me fizeram sorrir enquanto lia, seja por identificação com os hábitos de leitura da personagem, seja por compaixão e solidariedade por sua dor. Afinal, todos que já se reergueram após um ano de leituras mágicas sabem que a leitura pode ser sim uma forma de (sobre)viver.

"As pessoas compartilham os livros que amam. Elas querem espalhar para os amigos e familiares a sensação boa que sentiram ao ler o livro ou as ideias que encontraram nas páginas deles. Ao compartilhar um livro amado, um leitor está tentando compartilhar o mesmo entusiasmo, prazer, medo e ansiedade que experimentou ao ler. E por que mais o fariam? Compartilhar o amor pelos livros ou por um livro específico é uma boa coisa. Mas é também uma manobra arriscada para ambos os lados. Quem dá o livro não está exatamente expondo a alma para uma rápida olhada, mas quando o entrega com o comentário de que é um de seus preferidos, está muito próximo de expô-la. Somos aquilo que gostamos de ler e quando admitimos que adoramos um livro, admitimos que este livro representa verdadeiramente algum aspecto do nosso ser".

Nina Sankovitch. O ano da leitura mágica. São Paulo: Leya, 2011. Pág. 99

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Memória II

"Eram estranhos os desvios de memória das pessoas da aldeia: coisas que eles se empenhavam em lembrar às vezes fugiam e se escondiam bem no fundo, sob o manto do esquecimento. E exatamente aquilo que decidiam que era muito importante esquecer, justo isso vinha à tona, e saía de dentro do esquecimento como se fosse, intencionalmente, para incomodar. Às vezes se lembravam com os mínimos detalhes de coisas que quase nem tinham ocorrido. Ou se lembravam do que um dia existira e depois deixara de existir, lembravam com dor e saudade, mas de tanta vergonha ou pesar decidiam definitivamente que tudo fora só um sonho. E diziam aos filhos: isso não passa de lenda."

Amós Oz. De repente, nas profundezas do bosque. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Pág. 50