terça-feira, 9 de outubro de 2012

A Escada Rolante



Era um dia normal em um dos shoppings mais movimentados da cidade. Cidade grande, com muita gente passando de um lado para o outro com pressa, quase sem se ver. Caminhava distraída olhando as vitrines, em direção à livraria mais próxima, que ficava no andar inferior. Andei até a escada rolante, que costuma ser a forma mais rápida de se locomover nos prédios de vários andares, já que os elevadores costumam ser lentos e quase sempre estão congestionados.

Antes de dar o primeiro passo em direção à escada rolante para o andar de baixo, atrás de mim uma moça se despedia de uma senhora, ou pelo menos foi o que me pareceu. A senhora, talvez nos seus 70 anos, não sei dizer ao certo, dizer a idade dos outros nunca foi um talento meu. Sempre achei difícil dizer com certeza o que o tempo representou para cada coração. As duas se despediram e a senhora desceu sozinha.

Enquanto eu descia a escada observando a movimentação nos andares do shopping, movimento intenso de pessoas tão diferentes caminhando de um lado para o outro, a senhora que estava atrás de mim na escada puxou conversa:

- O problema para mim é só quando chega ali no final.

Já estávamos quase na metade da escada e imaginei que a senhora estivesse com medo de se desequilibrar na hora de descer. Sorri e tentei tranquilizá-la:

- Não tem problema, é só a senhora dar um passo quando estivermos perto do chão. Não se preocupe.

Então, chegamos no andar de baixo. Desci e olhei para trás, já me preparando para ter que ajudá-la caso a senhora baixinha se desequilibrasse. Mas quando olhei, a senhorinha segurava com as duas mãos no corrimão da escada e tinha dado um pulo (e não o passo cuidadoso que eu havia dito e que esperava) e agora gargalhava de alegria, um sorriso de travessura daqueles que há tempos eu não via. Baixinha e com os olhos brilhando, ela olhava para cima, para a escada que subia e me disse, como se compartilhasse um segredo: “Que delícia! Vou de novo!” E subiu na escada contrária à que acabávamos de descer. E lá foi ela, com o rosto corado do esforço do salto, sorrindo, subindo a escada outra vez.

Não sei precisar ao certo se aquela havia sido realmente a primeira vez da senhorinha ali na escada, ou se a brincadeira já durava alguns minutos. Talvez a filha ou a nora, de quem se despediu lá no início da descida, já estivesse cansada de tanta aventura em uma escada rolante e resolveu se sentar um pouco, para descansar as pernas. Talvez não julgasse ter mais idade para esse tipo de coisa, em meio a um shopping tão cheio de gente, o que as pessoas iriam pensar, ora essa.

Caminhei em direção ao estacionamento, não sem antes descer mais umas duas ou três escadas, lembrando de como eu e minha irmã nos divertíamos no shopping subindo e descendo incansavelmente as escadas, enquanto meus pais olhavam lá de baixo, sempre pedindo “Não corram”, “Tenham cuidado!”, “Escada não é brinquedo!” Mas para nós duas era sempre a maior aventura. Não sei ao certo a idade da moça, nem muito menos da senhorinha, nunca fui boa em dizer idades. Creio que nunca serei. Mas acredito que depois dessa história será mesmo impossível dizer quando alguém ainda é criança, ou quando alguém já não sabe mais ser. Talvez só seja possível afirmar alguma coisa depois de ver como esse alguém se comporta em uma escada rolante.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Outubro Rosa


O Outubro Rosa é o mês de conscientização e combate do câncer de mama. No Brasil, estimativas do Inca (Instituto Nacional de Câncer), indicam que a doença será responsável por 52.680 novos casos até o fim do ano.
O movimento que dura o mês inteiro busca alertar sobre os riscos e a necessidade de diagnóstico precoce deste tipo de câncer, que é o segundo mais recorrente no mundo, perdendo apenas para o de pele.

Para pais e filhos


Com uma história cheia de ternura sobre um menino que era filho da chuva, o escritor português José Luís Peixoto faz sua estréia na literatura infantil. Em "A Mãe que Chovia" (Portugal, Editora Quetzal, 2012) JLP conta a história de um menino que, por ter uma mãe tão especial, precisa aprender a partilhá-la com o resto do mundo e a lidar com a saudade nos momentos em que ela está ausente.

O livro conta com lindas ilustrações de Daniel Silvestre da Silva e a poesia sempre presente nos textos do autor. Com essa história delicada e terna, JLP cria uma oportunidade maravilhosa para resgatar, no dia a dia atribulado dos tempos modernos, um tempo precioso entre pais e filhos: aquele momento dedicado à leitura e às histórias, permitindo uma conversa e um momento de interação valioso para a educação das crianças.

O livro certamente não se destina apenas às crianças, já que emociona adultos também, pois é uma grande homenagem ao amor incondicional das mães, representadas pela chuva que fertiliza, que dá vida, que inunda o mundo de amor. Uma linda história.

"Mesmo quando estou onde não podes estar, mesmo quando estás onde não posso estar, sabemos bem o tamanho dessa certeza que nos une. Eu tenho a certeza de ti, tu tens a certeza de mim. Amor, essa palavra. Mãe, choves essa palavra dentro de mim".


José Luís Peixoto. A Mãe que Chovia. Portugal: Quetzal, 2012.