domingo, 14 de setembro de 2014

Este é o meu corpo


O corpo de uma mulher é encontrado após um telefonema anônimo para a delegacia. Está desfigurado na beira de uma estrada, com os pés amarrados e sinais de violência. O médico legista é chamado para descobrir o que aconteceu e ajudar a polícia a desvendar o caso. É esse médico legista, cujo nome desconhecemos, que contará a história, que é a história desse corpo e o que ele revela, e também a história de outras pessoas, do médico inclusive, e suas vidas envoltas em solidão. Intercalando as vozes narrativas do médico durante a autópsia e dos demais personagens que, aos poucos, vão se entrelaçando, Filipa Melo constrói uma história incrível para nos falar de solidão, de violência e também da morte, destino inevitável de todos nós. O silêncio dos personagens, que não sabem expressar seus sentimentos e sofrem e vivem em solidão e em silêncio, é algo fundamental nessa narrativa. Foi mesmo brilhante a ideia da autora de ter um corpo, já sem vida, a contar esse enredo, a desvendar esses silêncios. É o silêncio do pai de Eduarda, que sem saber como lidar com a perda da mulher, por quem nunca expressou o seu amor, que afasta cada vez mais a filha com a sua dificuldade de afeto e contato físico. É Alda, a mulher de Jacinto, o assassino, que sofre em silêncio a opressão de um casamento frustrado e sem amor, onde o diálogo nunca existiu. Jacinto, que a abandona por alguns meses, movido por uma paixão avassaladora por Eduarda, retorna ao lar depois de tudo, e é aceito sem questionamentos. Miguel, colega de trabalho de Eduarda, que há anos nutre seu amor por ela em silêncio, e o sofrimento que sente ao saber que a perdeu, sem nunca ter lhe confessado seu amor. Mais uma vez são os silêncios que falam mais que os personagens. O médico legista, com toda a descrição dos passos da autópsia que faz no corpo de Eduarda, estabelece uma relação quase poética com esses corpos, com os quais lida diariamente, refletindo sobre a vida mais do que sobre a morte, como se com eles pudesse dialogar. 
A força do texto de Filipa impressiona, tanto nas descrições tão precisas da necropsia, quanto na paixão que coloca no trabalho desse médico que, em sua vida pessoal, também sofre de imensa solidão, sem conseguir estabelecer com os outros nenhuma relação. À medida que conhecemos a história de Eduarda, a mulher que foi assassinada poucos dias após dar à luz a um menino em um dos hospitais da cidade, pelo próprio amante e pai da criança, por estar inconformado com o fim do relacionamento, vamos nos envolvendo mais e mais na história. Sim, senhoras e senhores, é desses livros que lemos de uma sentada só. Acho que pode ser considerado um romance policial, porque ficamos grudados no livro até o fim querendo saber a história dessa mulher que perdeu a vida, mas mais importante que o desfecho de uma história policial, onde tudo se resolve e o assassino é preso, aqui o que prevalece é a história de cada uma dessas vidas, seus silêncios e sua solidão.
Gostaria de ver outro livro da Filipa Melo por aí, vamos torcer para que a autora publique mais. Por esse livro de estreia só podemos esperar coisas boas.

MELO, Filipa. Este é o meu corpo. São Paulo: Planeta, 2004.

Filipa Melo nasceu em 1972 na cidade de Silva Porto (atual Cuito), em Angola. Jornalista e escritora, o seu romance "Este é o Meu Corpo" foi acolhido com grande entusiasmo pelos leitores e pela crítica, unânime em considerá-lo uma das revelações literárias da ficção portuguesa no ano de 2001.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Revolução em Dagenham (2010)


Dagenham, Inglaterra, 1968. Na fábrica Ford da cidade, Rita O'Grady (Sally Hawkins) é uma das 187 mulheres que trabalham como costureiras fazendo o revestimento dos bancos dos carros produzidos pelos 55 mil homens que são considerados a "força de trabalho", aqueles que fazem o trabalho mais qualificado e importante para a empresa. Cansadas de não serem reconhecidas pelo trabalho qualificado que desenvolvem e por ganharem menos que os homens pelo mesma hora de trabalho, as 187 operárias decidem reivindicar os seus direitos. As mulheres nunca haviam entrado em greve antes, apenas apoiado seus maridos, pais, e filhos operários durante as greves que eles iniciaram em busca de melhores condições de trabalho. A princípio, elas não são levadas a sério, como infelizmente costuma acontecer, mas quando a produção de carros precisa parar porque não há mais bancos prontos, fica evidente a importância do trabalho das mulheres nessa engrenagem industrial. Enfrentando uma oposição opressiva neste "mundo dos homens", Rita reúne as colegas a fim de lutar por igualdade salarial — uma atitude que desafia o status corporativo, ameaça o casamento dela, e finalmente, cobra um preço alto. Porém, com o apoio do administrador da fábrica (Bob Hoskins) e da Secretária do Trabalho (Miranda Richardson), as mulheres se tornam a sensação da nação — e as catalisadoras de uma mudança decisiva. Um desses filmes inspiradores, que nos faz refletir sobre a condição da mulher no mercado de trabalho e sobre a desigualdade salarial entre homens e mulheres exercendo as mesma funções, algo que ainda precisa mudar. Esta é uma história baseada em fatos reais e que mostra um ótimo exemplo de que essa mudança é possível. Recomendo muito.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

#BookadayBrazil - Setembro


A tag #BOOKADAYUK foi criada pelo site We love this book e tem sido compartilhada no Instagram, no Twitter e em outras redes sociais. A Juliana, do blog O Pintassilgo, e eu decidimos traduzir a tag, fazendo algumas adaptações para deixá-la um pouco mais brasileira. =)
Para participar, é só seguir a lista acima, que contém um desafio para cada dia, e postar a foto de um livro que esteja de acordo com o respectivo dia do mês de setembro em uma das redes sociais, não esquecendo de marcar sua foto com a Tag #BOOKADAYBRAZIL. Não deixe de compartilhar com os seus amigos e vamos falar sobre livros :-)

O Pintassilgo no twitter, no facebook e no Instagram :)

Pipa não sabe voar no twitter, no facebook e no Instagram :)