sábado, 22 de outubro de 2016

Sorteio: O acorde secreto

Resultado do sorteio de um exemplar de O acorde secreto, de Geraldine Brooks:

A vencedora é ELISANGELA MEDEIROS DE OLIVEIRA. Vou entrar em contato por email, e se a pessoa não responder, realizarei novo sorteio na próxima sexta feira.

Obrigada a todos e a todas que participaram e até a próxima!


quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Um poema de Adília Lopes


Body Art
(Adília Lopes)

Com os remédios
engordo 30 Kg
o carteiro pergunta-me
para quando
é o menino
nos transportes públicos
as pessoas levantam-se
para me dar o lugar
sento-me sempre

Emagreço 21 kg
as colegas
da Faculdade de Letras
perguntam-me
se é menino
ou menina

No metro
um rapaz
e um velho
discutem
se eu estou grávida
o rapaz quer-me
dar o lugar

Detesto
o sofrimento

***
Adília Lopes, pseudônimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, (Lisboa, 20 de Abril de 1960) é uma poetisa, cronista e tradutora portuguesa.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Sorteio: O acorde secreto


Lançado uma década após a autora vencer o Prêmio Pulitzer, O acorde secreto reinterpreta os episódios mais marcantes da vida do rei Davi. Em uma análise detalhada do Antigo Testamento e de descobertas arqueológicas, Geraldine traz à tona um dos mais polêmicos personagens bíblicos, de quando era um soldado destemido que ascende ao trono até seus últimos dias como um tirano dominado pelo remorso. Narrado pelo profeta Natã, amigo, conselheiro e muitas vezes a própria consciência de Davi, o livro é uma saga épica sobre fé, sangue, desejo, família e ambição.

Para participar do sorteio de um exemplar de "O acorde secreto", de Geraldine Brooks, é só preencher o formulário abaixo com seu nome e email, e responder a pergunta desafio. As inscrições podem ser feitas até o dia 21/10/2016, apenas através deste formulário, e o sorteio será realizado no dia 22/10/2016, às 10h. Sorteio válido apenas para residentes no Brasil. 

O resultado será divulgado aqui no blog. Boa sorte! :)

Para participar do sorteio, clique aqui.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

As memórias do livro


Publicado em 2008, As memórias do livro é o terceiro romance da australiana Geraldine Brooks e ganha nova edição pela Globo Livros em 2016. O livro é um romance histórico que narra a vida de uma conservadora de livros, Hannah Heath, contratada para restaurar e analisar a Hagadá de Sarajevo, um importante livro judaico, com mais de 600 anos e famoso por ser um dos primeiros manuscritos judaicos a conter ilustrações. Em muitos momentos, o livro correu o risco de ser destruído, mas foi salvo por pessoas que acreditam na importância dos livros, independente de etnia, nacionalidade ou religião. Paralelamente à história pessoal de Hannah, que é apaixonada pelo seu trabalho, mas tem grandes conflitos familiares, a autora intercala diferentes momentos, no tempo e no espaço, em que conhecemos um pouco da história imaginada da Hagadá e das pessoas arriscaram suas vidas para protegê-la. 

Geraldine Brooks era correspondente de um jornal estadunidense em Sarajevo e se inspirou na história real de dois muçulmanos, um bibliotecário e um pesquisador, que em diferentes momentos arriscaram suas vidas para salvar a Hagadá da destruição: uma durante um incêndio durante a Guerra da Bósnia, outra durante a Segunda Guerra, quando foi levada para a biblioteca de uma mesquita para evitar que fosse destruída pelos nazistas. Essas duas histórias inspiraram a autora a pesquisar mais sobre a Hagadá, ainda que se tenha poucos registros sobre sua real trajetória, sobre o trabalho de conservadores de livros raros e o importante papel que esse trabalho, quase sempre invisível, têm na manutenção e preservação da história e da cultura, e decidiu ficcionalizar uma possível história para o livro e todas as pessoas que poderiam tê-lo salvado ao longo desses anos.

É um romance que vai agradar principalmente quem gosta de romances históricos, pois é muito rico em detalhes e essa parte sobre o passado da Hagadá foi o que eu pessoalmente mais gostei no livro. É como uma viagem no tempo que nos transporta para períodos tão sombrios da história da humanidade, tudo a partir de vestígios encontrados no livro, mas onde vemos que, mesmo nessa época de grandes tragédias e sofrimento, havia os que lutavam pela justiça e pela liberdade. O livro é dedicado aos bibliotecários e isso já diz muito sobre esse amor pelos livros e o reconhecimento do seu valor que sentimos ao ler esta história.

Geraldine Brooks, vencedora do Prêmio Pulitzer de ficção em 2006 pelo livro O Senhor March, é autora de quatro romances e de dois títulos de não ficção. Nascida e criada na Austrália, ela vive em Martha’s Vineyard, nos Estados Unidos, com o marido, o também escritor Tony Horwitz, e os dois filhos.

*Recebi este livro como cortesia da Globo Livros.

domingo, 9 de outubro de 2016

Dias de abandono




Sempre que me perguntam para que serve a literatura, a primeira coisa em que penso é que a literatura nos permite vivenciar outras experiências, uma vez que nos coloca no lugar do outro, cria em nós empatia pelo que ele ou ela vivencia ou sofre. É uma possibilidade de sempre acrescentar conhecimentos ou nos fazer questionar nossas verdades, tornando-nos, assim, pessoas melhores. 

Começo falando de empatia, porque esta palavra esteve muito presente durante a minha leitura de Dias de abandono, da Elena Ferrante. Nesse romance, Ferrante retrata a situação de luto vivenciada pela protagonista, Olga, uma mulher que foi abandonada pelo marido e se sente absolutamente perdida com seus dois filhos e a sensação de vazio que a acompanha por algum tempo. 

Se para muitos o tema do abandono pode ser considerado um clichê, na narrativa de Ferrante uma história aparentemente comum se engrandece pela sutileza com que ela se aproxima dessa personagem e de seus sentimentos. O choque de ter sido deixada pelo marido, a quem se dedicou durante toda a sua vida, é o ponto de partida para várias reflexões feitas pela personagem sobre a condição da mulher em um mundo que ainda valoriza o casamento como atestado de sucesso (ou fracasso, no caso da personagem). 

A imagem da infância que assombra a protagonista é a de uma mulher linda, mãe de duas crianças, que um dia é abandonada pelo marido e passa a ser alvo de todos os tipos de comentários pelas demais mulheres do bairro, inclusive sua própria mãe. É dessa imagem de "pobre coitada" que a personagem busca se afastar a todo custo, mas quando é deixada pelo marido, percebe que ela está na mesma situação. Quando se trata da dor que sentimos, acredito que nem tanto por ter perdido um amor, mas pelo status de mulher casada e bem sucedida que se perde, há uma grande semelhança em todas nós. É essa tomada de consciência da personagem, que passa a perceber o quanto se anulou no casamento, o quanto viveu em função do marido e para ele, que parece desencadear esse processo de luto, tão bem descrito por Ferrante em todas as suas etapas. 

Se no início temos vontade de sacudir a personagem e aconselhá-la a se desapegar desse homem que não a respeita enquanto ela vive a etapa da negação, logo em seguida sentimos vontade de consolá-la, pois como diz Leslie Jamison em Exames de empatia: "dor representada também é dor". E são os detalhes de algumas cenas em que podemos ver o quanto a protagonista está em pedaços que nos toca e causa empatia. Não pelo marido que a trocou por uma mulher bem mais jovem, mas por ela, por todos os dias em que ela deixou de ser prioridade em sua própria vida, pelo muito que ela terá que reconstruir. E gostei imenso do fato de que a possibilidade de se reconstruir e recomeçar exista, por ela.

Um livro que exercita a nossa empatia, na medida em que só consegue ser apreciado plenamente se nos distanciamos de tantos pré-julgamentos que às vezes reproduzimos sem pensar, mas que faz todo sentido se nos colocamos no lugar do outro, com empatia por sua dor, por seu sofrimento. Elena Ferrante mais uma vez brilha ao escrever um texto seco, frio, com a mesma qualidade estética dos livros anteriores, e que nos leva por todo o processo de angústia e luto da personagem durante a leitura, como se nós também buscássemos ar para fazer essa travessia. Apesar de ser um romance relativamente curto, é um livro que incomoda, que nos inquieta e que, assim como a personagem parece sentir, provoca o mesmo sentimento de termos, enfim, conseguido atravessar essas linhas. Uma das melhores leituras do ano.

*Recebi este livro como cortesia da editora Globo Livros.