quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Os íntimos


Sou uma grande fã da Inês Pedrosa e aguardei o lançamento desse livro com muita ansiedade. Saí correndo para ir até a livraria assim que recebi um email avisando que o meu exemplar já havia chegado. Isso seria algo normal se o email não tivesse chegado às 9 da noite e a livraria fechasse às 10. Não dava para esperar mais; estava com saudade de ler a Inês.

E coitada da Inês por ter que corresponder a uma expectativa tão alta assim, porque quase sempre quando a expectativa é alta dificilmente o livro, por melhor que seja, consegue nos satisfazer. Os críticos estão dizendo que "Os íntimos" talvez seja a melhor obra da Inês Pedrosa e devo dizer aqui que não concordo. Acho que o livro do desassossego da Inês, como ela mesmo diz, é o "Fazes-me falta". E na minha simples opinião de leitora, também o são o "Nas tuas mãos" e "A eternidade e o desejo". Esses sim são os melhores.

Em "O íntimos" vi uma Inês mais irônica, com mais humor, intercalando diferentes vozes e estilos narrativos para nos contar a história de cinco amigos que se reúnem em um bar de Lisboa para beber, assistir a um jogo de futebol e falar sobretudo de mulheres. Apesar de explorar o ponto de vista masculino nessa história, as mulheres continuam a permear todo o universo narrativo de Inês Pedrosa e mostram os conflitos e as dores mais profundas dos personagens. Mas acho que eu senti falta de uma dose maior de paixão. O livro não comove tanto quanto os outros três já citados, mas não deixou de ser interessante ver essa mudança na autora.

Posso dizer que os livros da Inês Pedrosa exercem certo encantamento sobre mim. Ler Os íntimos foi uma leitura prazerosa e, como sempre, eu fico com um gostinho de "quero mais".

"A mesma dor nunca é a mesma. Preciso do traço da caneta que liga o silêncio da morte às palavras da vida. Deixo-me ensopar pela chuva, como se flutuasse dentro de um céu arruinado. É uma sensação agradável. Reparo que o caderno de Jerusa, pendurado do bolso exterior da minha gabardina, está completamente ensopado. Ilegível. Não me pertencia. Porque insisti em copiá-lo, reescrevê-lo, romanceá-lo? Eu nem gosto de romances. Pretendia meter-me na cabeça de uma mulher. Arrogância? Estupidez: a cabeça de uma mulher, a cabeça de um homem. Classificações abstratas que nos impedem de ver o que existe: um formigueiro humano sem sentido algum". [p.197]

Inês Pedrosa. Os íntimos. Ed. Alafaguara, 2010.

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