sexta-feira, 4 de julho de 2014

Os Surdos


A história gira em torno do desaparecimento da filha de um banqueiro. Preocupado com a moça, o pai a aconselha a contratar um guarda-costas, o jovem Cayetano, que não tem muita experiência, mas é um ótimo atirador. Em um dia de folga do guarda-costas, a filha do banqueiro, Clara, é sequestrada. A partir daí a filha faz ligações estranhas de várias partes do país e do mundo, afirmando que tudo está bem, mas tudo parece estranho. Há um pedido de resgate, mas de outras pessoas que querem se aproveitar do desaparecimento da moça para ganhar dinheiro fácil.

Logo no início da história, há também o desaparecimento de um menino surdo que só é explicado nas últimas páginas do livro. Fatos importantes do enredo são narrados sob a perspectiva de diferentes personagens, o que fornece ao leitor uma visão ampla da história que ali se desenrola, mas em alguns momentos essa fragmentação deixa o romance um pouco confuso. Contudo, nada a ponto de desanimar o leitor a dar continuidade à leitura para desvendar o mistério.

O jovem Cayetano não desiste de encontrar Clara, mas acaba descobrindo o envolvimento de pessoas que nunca imaginou estarem envolvidas em crimes como esse. Quando a encontra, ele tenta provar que ela não está bem, provavelmente está drogada pelos sequestradores que criaram um hospital para realizar experimentos com crianças surdas e com outros tipos de deficiência. Mas surdos são aqueles que não conseguem de fato ouvir suas denúncias e que preferem fingir que tudo está bem.

Os diálogos de Rey Rosa são ágeis, suas descrições reduzidas, e ele é um dos autores realistas que tematizam em seu texto a época atual (os personagens são moradores da Guatemala contemporânea). O livro retrata a grande desigualdade socioeconômica da Guatemala, e como o crime e a violência fazem parte da vida dos personagens. A morte e o desaparecimento de mulheres é abordado no livro, um dos problemas centrais na Guatemala de hoje. Rey Rosa também aborda a Guatemala das culturas maias que sobrevivem com suas próprias leis.

A construção do romance é envolvente e prende a atenção do leitor, que anseia por um desfecho de maior impacto, mas isso fica um pouco a desejar. No entanto, Os Surdos é uma boa narrativa de entretenimento.


Rey Rosa, Rodrigo. Os surdos. São Paulo: Benvirá, 2013. Trad. José Rubens Siqueira. 264 pág.

Rodrigo Rey Rosa nasceu na Guatemala em 1958. Depois de abandonar a faculdade de medicina, mudou-se para Nova York (onde estudou cinema) e logo depois para Tânger, no Marrocos. Entre seus livros, traduzidos para vários idiomas, estão O material humano, publicado pela Benvirá, Severina e La orilla africana. É também tradutor, tendo vertido para o espanhol obras de Paul Bowles, Norman Lewis, Paul Léautaud e François Augiéras.

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